A
Doutrina Bush
O ataque terrorista de 11 de
setembro de 2001 fez mais do que aumentar os investimentos norte-americanos em
recursos defensivos. Em 2002, com o pretexto de acabar com os ataques
terroristas, o governo divulgou um documento intitulado “A estratégia de
segurança nacional dos Estados Unidos”, que contém determinações para as áreas
político-militar e econômica e foram apelidadas de Doutrina Bush, por causa do
nome do presidente George W. Bush.
Com a Doutrina Bush, os Estados
Unidos alteraram os padrões de política externa típicos da Guerra Fria e do
final do século XX, baseados na contenção ou na tentativa de dissuadir os
adversários. Segundo o documento, “não hesitaremos [os Estados Unidos] em agir
sozinhos, se preciso for, para fazer uso do direito de autodefesa, de maneira
preventiva e antecipada”. Dessa forma, os Estados Unidos justificam suas ações
contra países considerados hostis, como ficou comprovado na invasão e na
ocupação do Iraque, em 2003.
A Doutrina Bush determina ainda
o fortalecimento das alianças com outros Estados para derrotar o terrorismo no
mundo e o fim da maioria dos tratados de não-proliferação de armas nucleares.
Além disso, estabelece que os Estados Unidos não permitirão a ascensão de
qualquer potência estrangeira que rivalize com a enorme dianteira militar dos
norte-americanos, alcançada desde o fim da Guerra Fria e a derrocada da URSS.
Estabelece também o compromisso do governo norte-americano em auxiliar países
cujos governantes “incentivem a liberdade econômica”, numa indicação clara de
que os países devem abrir ou intensificar a abertura de seus mercados, adotando
de forma intensa o processo de globalização.
Além da consolidação dos Estados
Unidos como superpotência global, a Doutrina Bush procura defender seus
interesses econômicos. Muitos dessas interesses estão associados à garantia do
fornecimento de petróleo, matéria-prima e fonte energética fundamental para a
economia mundial em geral e, em particular, para a economia norte-americana.
Os Estados Unidos também
procuram intensificar a sua influência no Oriente Médio e na Ásia Central,
regiões ricas em petróleo e gás natural e que concentram muitas reservas
inexploradas desses recursos. O Oriente Médio também se sobressai na
geopolítica internacional pela sua posição estratégica, ligando a Ásia à África
e à Europa, além de ser palco de vários conflitos do mundo atual, como o que
envolve israelenses e palestinos.
Por trás da guerra no
Afeganistão, por exemplo, estava o interesse dos Estados Unidos em ampliar sua
presença na Ásia Central e no Oriente Médio, onde se localizam também alguns
países que pertenciam à ex-URSS, como o Kasaquistão e o Turcomenistão, que
abrigam grandes reservas de petróleo e de gás natural. Além disso, para que
esses recursos possam ser escoados para o mundo ocidental – especialmente os
Estados Unidos, Canadá e União Européia -, são necessários gasodutos e
oleodutos que devem passar pelo Afeganistão e pelo Paquistão. Daí o interesse
dos Estados Unidos e de seus aliados europeus em manter governos pró-ocidentais
nessas regiões asiáticas.
Prof. Flávio Guedes